Fic: Crying Days.

Plot: Bella estava cansada da vida, dos problemas, do casamento, de fingir, até exausta de Nessie, ela estava. Mas com 37 anos você ainda tem muita vida pela frente para desistir e se dar por vencida.

First Act: Old Fears.

- "I'm looking for a way to become the person that I dreamt up when I was sixteen"-

Isabella Swan, já não estava tão nova, as olheiras das noites mal dormidas atrás de sua filha lhe garantiam ainda mais idade. Renesmee era certamente uma menina bela, assim como o era seu pai da última vez que fora visto, mas sua atitude rebelde não combinava em nada com o rosto angelical. Jacob casara com Bella, quando a reencontrou após alguns anos, ela perambulava pelas ruas tumultuadas do subúrbio de mãos dadas com a pequena princesinha de cinco anos. Nessa época Bella tinha seus vinte e dois e Jacob, que mal havia se tornado homem, dezoito.

Casaram-se.

Por compaixão ou por outro sentimento que o valha, não importava; Bella tinha ali seu alicerce. Com Jake sua vida toda estava bem soldada ao chão, totalmente o contrário do que havia sido com ele.

Ela olhou para o relógio de novo e ao ver que eram duas da manhã, constatou que não havia nem cinco minutos que o encarara pela última vez. Nessie estava sumida há quase dois dias, ela estava preocupada com sua filha.

Um toque de telefone fez com que Bella desse um pulo na cama.

-Nessie?! - Isabella esbravejou no bocal do telefone.

-Bella? - a voz confusa e grave do outro lado da linha não era exatamente a que ela esperava ouvir.

-Jake. Achou ela? Estava no beco de novo? - agora, pela decepção, estava mais calma, mas seus dedos retorciam a ceda de sua camisola.

-Sim... Bella... Não tenho boas notícias. - não havia emoção na voz.

Só o silêncio respondeu o aviso de Jacob, as lágrimas de Bella corriam lentamente e ela não abria a boca, pois sabia que começaria a soluçar e berrar. Precisava, pois, se controlar.

- Estou aqui com ela no St. Jude. Outra overdose. - falou com poucas palavras secas - Quando estiver chegando me avise, vou esperar na recepção.

Aos sete anos Renesmee foi levada para viver com a avó Renée, mãe de Isabella, que morava em outro estado. Todos pensavam que seria o melhor, afinal ela nunca pronunciara uma só palavra para seu padrasto e seu desempenho era horrível na escola, talvez se morasse com uma influência mais produtiva renderia verdadeiros frutos.

Bobagem.

Aos dezessete, pouco mais de dez anos depois, voltou para a casa de Bella por conseqüência da morte da avó. Já naquela época a mãe percebeu o envolvimento da menina em uma daquelas poucas coisas capazes de estilhaçar o coração de uma mãe: as drogas. No começo não era nada demais, um cigarro aqui e ali, ou até pacotinhos de fumo. Mas e quando ela começou a achar pó? E, mais recentemente, agulhas?

Mas derrotada ela ainda não estava, não ia desistir de sua única filha, fruto do seu amor por um alguém especial.

Enquanto abotoava a calça recém vestida, por baixo da camiseta vermelha, pensava onde ele estaria, o que fizera de sua vida, se teria esposa, se amava alguém. O que estaria se passando na vida de Edward Cullen?

O táxi cruzou rapidamente as grandes avenidas, as luzes que se refletiam nos vidros tornavam impossível ver, pelo lado de fora, os olhos vermelhos e úmidos dela. Perguntou ao motorista se tinha lenços de papel, ele disse que não. Depois disso as fungadas de ar pareciam criar um ritmo, desagradável e melancólico ritmo, por um acaso.

-Estou procurando minha filha, ela... - esbaforida, com os cabelos marrons até um pouco umedecidos na raiz pelo suor da correria, Bella se apoiava no balcão e quase gritava.

-Bella. - uma mão bem aquecida tocou-lhe o ombro.

-Jake! - ela o abraçou com tamanha força que ele suspirou.

- Ela já está bem. Vamos lá? - acariciando a cabeça dela ele sussurrou suavemente.

Fez-se o cadastro de Bella na recepção rapidamente e, logo, estavam subindo o elevador panorâmico do enorme e moderno hospital particular.

"Quarto 211 A". Estava escrito na porta azulada.

Jacob pousou a mão na maçaneta e estava prestes a girar quando sentiu a mão fria e pálida da esposa sobre a sua. Retirou-a e assistiu às mãos trêmulas de Bella. Abriu-se, enfim, a porta, mas Bella esperou uns segundos antes de dar o primeiro passo para dentro.

-Quem está aí? - a voz era rouca e quase inaudível.

-Somos nós, Nessie. - anunciou Jake indicando o caminho para Bella.

Ela estava deitava na cama, presa por muitos fios, ligada a muitas máquinas. O soro estava quase no final e Renesmee assistia enquanto as gotas lentamente pingavam para só depois correrem para sua veia. A mãe olhou para a filha e soluçou bem baixo o nome dela. Ela pensava o que teria feito de errado.

Pensava no porquê de uma menina tão linda, que poderia ter o mundo a seus pés, estar passando por aquilo. Tinha que ser culpa dela. Ela era a mãe, a maior inflência, que havia feito tudo erroneamente. Como Bella se repudiava nesse momento.

Saiu correndo do quarto.

-Por que você faz isso, garota teimosa? - Jacob se aproximou imponente da maca. - Já não te falei pra parar de torturar a sua mãe?

-Eu estava afundando aos poucos... - ela olhava para o outro lado enquanto sussurrava as palavras - Tive medo de ir sozinha. Ela estava lá, disposta a ir comigo até o fim.

-Ela te ama, só isso.

-E eu também a amo muito.

Jake chegou ainda mais perto e tocou de leve as bochechas gélidas dá menina com sua mão quente, depois lhe beijou a testa.

-Como você é cruel. - Nessie revelou.

-E você é psicótica. - ele piscou.

-Não há tanta diferença. Eu tenho vinte, você trinta e três...

-Sua mãe trinta e sete e eu sou marido dela. - sorriu.

Ela deu um pequeno sorriso de escárnio e virou de novo para o outro lado.

-Quero ir para casa. - ela estava chorando tanto, e assim, de repente.

-Ah, Nessie. Eu não consigo te entender.

Sentado na maca junto a Renesmee, Jake acariciava ela, tentando consolá-la.

-Você acha que ela vai me perdoar? - a voz tornara-se doce como a de uma criança, a frase em si também era bem infantil; Jacob enxergou ali a verdadeira Nessie.

Jacob riu baixinho e com um sorriso que não mostrava seus dentes brancos, mas que ia quase de orelha a orelha, acenou que sim com a cabeça enquanto bagunçava os cachos cobres quase totalmente destruídos da cabeça dela. Ela fora só mais uma daquelas crianças forçadas a crescer rápido demais, e que precisavam de ajuda para entender o que perderam. Jake a amava e estaria ali por Renesmee, mesmo que ela preferisse outras companhias mais silenciosas e mais prazerosas.

Ela repousava o rosto angelical no travesseiro - sempre dormia tranqüila com Jacob por perto.

-É claro que vai. A Bells tem um coração enorme, você sabe disso.

Esperou a certeza de Renesmee estar num sono profundo para sair. Levantou com cuidado para não fazer barulho e, sempre silencioso, saiu do quarto. Ela o esperava na recepção. Roxa de tanto chorar, com os cotovelos apoiados nas coxas para ficar mais fácil de esconder-se com as palmas das mãos, Isabella encarava o nada.

-Vamos? - perguntou Jacob quando se aproximava.

Ela não respondeu, mas levantou-se e o seguiu.

Não tinha amanhecido ainda, mas o sol não se demoraria muito mais. Isabella ou Jacob não dormiram nada e agora estavam indo para casa. O carro estava silencioso demais até Bella falar.

-Jake, será que ela me odeia agora? Quero dizer, eu fugi! Como pude fazer isso? Como pude ser tão fraca?

-Bella - ele pousou a mão na cabeça dela e a acariciou - Renesmee que estava errada e acredite em mim quando eu lhe digo: ela te ama. Além do mais, você não é fraca e, mesmo que por um momento o fosse, não haveria nada de errado nisso.

-Mas na frente dela? Ela precisava de apoio e não de uma pessoa inútil como eu. - ela esfregava freneticamente os olhos para evitar que as lágrimas escorressem pelo rosto.

-Bobagem, você já foi forte demais, ela reconhece seu esforço.

Apoiando o cotovelo na porta para poder segurar a cabeça que pesava demais, Bella finalmente decidiu deixar as lágrimas rolarem livremente por suas bochechas até caírem em sua roupa, tingindo o vermelho de um tom mais escuro.

-Bells, acho que vou passar a noite lá no hospital com ela. - falou Jake enquanto manobrava o carro para estacioná-lo na vaga diante de sua casa.

Isabella assentiu com a cabeça e disse que ia dormir. Jacob ficara triste ao vê-la daquela maneira, mas não podia fazer muito por ela; por mais que a reconfortasse ele sabia que não eram palavras dele que Bella queria ouvir.

-Você já sabe que eu vou falar com ela sobre aquilo, não sabe? - falou um pouco mais alto para que ela ouvisse de onde estava.

-Sei. - ele só presumiu que isso fora o que ela dissera, pois prostrada de frente para a porta da casa deles ela não falara alto o suficiente para que o som o alcançasse.

-É para o bem dela. Assim ela poderá se recuperar.

Deu partida no carro e, relutantemente - olhando pelos retrovisores hora ou outra -, saiu da vaga observando ela entrar na casa. Ainda na rua de sua casa, olhou mais uma vez pelo espelho para construção de tijolos se afastando, a porta de madeira fria parecia impedir, com ajuda das janelas fechadas, que a felicidade entrasse naquele lar.

- Jacob? - a voz de Nessie estava recheada de surpresa, ele sorriu com dentes brancos a mostra para ela em resposta.

Puxou uma das poltronas do pobremente decorado quarto hospitalar para próximo da maca. Sentou-se. Observou durante um bom tempo o espaço a sua volta, as paredes amareladas, o sofá onde dormiria, o pequeno armário ao lado do banheiro, onde ele, mais cedo, colocara algumas roupas para a enteada.

- Desembucha, J.! - exaltou-se a garota.

- Vamos te mandar para uma clínica de reabilitação. Pronto. Feliz? - ele foi na onda de exasperação.

- Não. - ela sorriu - Só que eu preciso, não posso mais machucar minha mãe. Cansei, sabe? E, além do mais, só assim eu terei uma chance com você.

- Como você insiste nisso, hein garota? - ele riu, sincera e abertamente, o sorriso grande e branco iluminava o mundo de Renesmee.

-Lógico, já que é só para mim que você tem esse sorriso.

Ele deu de ombros, mas mesmo de lábios colados continuou sorrindo, ajeitou o sofá, colocou o travesseiro e pegou o cobertor peludo que o faria espirrar. Já deitado voltou a conversar com Nessie, ficaram assim um bom tempo, até Jacob dormir, esgotado. Ela não se demorou muito vendo o sono pacífico dele, logo também sonhava.

Da casinha, gêmea de todas as outras da rua, saia um choro abafado se você chegasse perto o suficiente. Bella estava na cozinha, caída no chão e sem forças para levantar. Ela estava decidida a ir atrás dele, precisava de sua ajuda. Ela levantou-se pensando em como o acharia, seria difícil, mas valeria a pena. Ela não conseguiria sem Edward.

Olhou as listas telefônicas, o nome dele tinha que estar lá. Só que não estava. Isabella achou Carlisle Cullen, pai dele, e resolveu que seria por ali que começaria, talvez eles, como pais, tivessem idéia de onde o filho estaria naquele momento. Ela se satisfazeu ao ver que ainda moravam no mesmo lugar.

Chamou um táxi pelo telefone e esperou, enquanto aguardava arrumava seu rosto vermelho e manchado, precisava se livrar dos vestígios do choro. Não demorou mais de quinze minutos para o carro chegar e começar a buzinar. Já eram quase nove horas da manhã, mas Bella estava preocupada em acordar a família. Talvez devesse parar em algum lugar primeiro. Parou numa cafeteria, a primeira que passou, e pediu para que o taxista esperasse, até perguntou se ele queria algo. Ela demorou a escolher um café todo incrementado e mesmo com o motorista recusando a oferta ela comprou um café expresso para ele.

-Deve ter sido uma noite e tanto a sua. - o taxista era novo e comentou quando, depois de agradecer muito a ela, já tomava seu café.

-Acho que já tive uma pior... - ela tentou sorrir, mas saiu forçado demais.

Os dois terminaram de tomar o café ainda ali sentados no carro, ela saiu e levou os copos vazios até a lixeira que ficava na porta da cafeteria, voltou pro táxi e achou que o horário já estava bom.

-Pode seguir para o endereço, agora. - ela falou polidamente e bem séria.

O jovem obedeceu e embora ele tentasse iniciar uma conversa desistia toda vez que via o rosto abalado e triste da mulher pelo retrovisor. Pensava em como ela era bonita e maltratada e em quantas noites ela havia passado sem dormir recentemente. O tempo passou voando para ele, nem chegou a ter tempo suficiente para realmente falar com a moça; o tempo se arrastou para Bella, ela só não contou os milésimos que levou para chegar.

-Aqui está. - Bella o pagou quando a deixou de frente para a casa grande de bairro nobre.

-Boa sorte, dona. - o jovem taxista sorriu e acelerou.

Bella postou-se de frente para a porta. Aproximou seu dedo uma, duas, três vezes da campainha, depois desistir e relaxou o braço. Suspirou sentindo-se abatida, quase como se tivesse levado uma surra, mas ergueu a cabeça e o braço e, dessa vez, afundou o dedo na campainha. Não demorou muito e ouviu-se uma vozinha, calma e doce, até mesmo melodiosa:

-Quem é?

-Sou eu, Esme. Isabella Swan. Lembra de mim? - ela falou com o rosto abaixado e a voz num tom perto do inaudível.

-Bella? - a porta se abriu abruptamente e Bella não teve tempo de se surpreender com a mudança da aparência de Esme, antes de ser abraçada pela figura loira - Como você está menina? Como está a Renesmee?

O olhar de Bella falava por si só. Nessie não estava nada bem. Esme estendeu os braços e passou seus dedos pelo cabelo mau penteado da outra. "Eu queria saber onde ele está", a morena sussurrou. Abraçou Esme de volta e chorou, baixinho, molhando a roupa dela.

-Você sabe onde ele está? - perguntou finalmente, quando parou de chorar.

-Eu não. Mas Carlisle sabe. Ele não me contou porque Ed pediu. - o sorriso de Esme era tão doce - Vá até o escritório perguntar para ele! Tenho certeza que para você ele abrirá uma exceção. - e deu uma piscadela leve antes de empurrar Bella para dentro da casa - Vou fazer um café.

Bella ia falar para a outra não se incomodar, mas Esme já tinha ido, só sentia-se seu rastro de douçura. Devagar foi firmando seu pé, perdendo a vergonha e finalmente se viu caminhando quase que relaxada. Ia subindo as escadas quando ouviu gritos.

-Valeu, pai! - ela reconheceria aquela voz em qualquer lugar, mesmo que tivesse passado milênios sem ouví-la.

-Alice!

-Bells? - os olhos cor de caramelo estavam arregalados em surpresa - Bells!

A mulher com ar infantil, cabelo curto e bem escuro, a abraçou tão forte que quase caiu da escada. Se viu sorrindo por matar as saudades de alguém tão querido.

-Você já viu o Jasper? A Rose? O Emmett? - perdia-se com as perguntas vomitadas pela outra, mas ainda assim Bella estava alegre.

-Só você e Esme, naturalmente.

-Algum problema, Bells? - Isabella acenou negativamente com a cabeça - Bem, você pode vê-los outro dia certo? Prometemos visitá-la. Eu levo todos, nem que seja preciso arrastar. Você ainda mora na casa do Jacob, não é? - ainda sorrindo ela terminou de descer os degraus correndo, abriu e bateu a porta logo em seguida.

Lá se foi Alice, agora ela tinha que continuar subindo até o escritório. Ficou, entretanto, algum tempo parada, lembrando de bons momentos ao lado de Alice. Fazia falta tê-la ao seu lado, Bella sentia muita falta de todas aquelas pessoas, afinal fazia o quê? Quase vinte anos? Desde que Edward sumira quando soube de sua gravidez, ela não os via. Finalmente, sacudiu a cabeça e voltou a colocar pé ante pé, subindo. Conhecendo a casa bem sabia que o primeiro quarto ao término da escada era onde estaria Carlisle. Bateu na porta devagarzinho duas vezes.

-Esme? Pode entrar, querida - a voz calma que veio lá de dentro de certa forma intimidou Bella.

Tremendo ela entrou, não ergueu a cabeça para ver que o homem se surpreendeu muito ao vê-la, não pode ver nem que ele dava um sorriso de contentamento.

-Carlisle... - ela começou a falar, porém a voz ficava presa na garganta e falhava.

-Há quanto tempo, heim, menina? - ele deu uma risada gostosa, que fez questão de contagiar o ar e fazer Bella olhá-lo enfim - Tudo bom?

Todos a chamavam de menina, porém ela não se sentia jovem assim.

-Não...

-Óbvio que não, certo? Se não o que você estaria fazendo aqui? O que houve? Foi a Renesmee? Da última vez que tivemos notícias de vocês soubemos da situação dela.

-Carlisle? - ele calou-se e engoliu em seco, sentindo-se impotente perto daquela mulher que chorava na sua frente - Onde está o Edward? Eu preciso da ajuda dele. Eu preciso...

-Aqui.

Ela pegou o papel que lhe fora estendido. Estava surpresa, porque achava que seria mais difícil, mas não tinha do que reclamar. Se esforçou para sorrir e conseguiu fazer dobrinhas na sua sua boca, mesmo que não parecessem sinceras, elas eram. Bella realmente sentia-se agradecida.

Correu, no caminho para a porta Esme ofereceu o café e ela prometeu que ficaria para a próxima. A felicidade não lhe cabia no peito, teve vontade de gritar. Agora ela o acharia e poderia fazer tudo melhorar.

Ele se sobressaltou quando reparou que debaixo da manta que colocara sobre si não tinha apenas um corpo. Resnesmee tinha se enfiado lá de algum modo. Desvencilhou-se de alguns fios e arrastou o soro até perto do sofá e agora estava dormindo abraçada nele. E com uma expressão totalmente inocente e indefesa. Ele deu um beijo na bochecha corada dela.

-Jacob? - ela corou ainda mais, chegou a ficar toda vermelha.

-Apesar de tudo você é meiga. O que está fazendo aqui?

-Estou internada, oras. - ele fez uma daquelas expressões que dizem para as pessoas começarem a falar sério e apontou com o nariz para a maca vazia - Ah! Estava muito frio.

-Era para você estar num estado deplorável, mas aparentemente você já está super bem, não é?

Ela não respondeu, se encolheu um pouquinho e mostrou sofrimento nos olhos. Ele foi se ajeitando para levantar, pegou-a no colo e como se ela não pesasse nada para aquele corpo musculoso foi carregada, enquanto com o pé ele arrastava o suporte do soro, e depositada levemente sobre a cama em que deveria ter dormido.

Jacob ia dar meia volta para ir ao sofá, mas sentiu-se segurado por uma mão pequena e fria. Ela implorava para que ele senta-se ali sem nem abrir a boca e ele entendia perfeitamente.

-Nessie, eu tô bravo, você não deveria ter... - ele não conseguiu falar o resto porque tinha uma boca colada a sua.

Ele não sabia se deveria corresponder ou se deveria a repulsar, porém a segunda opção lhe pareceu rude por demais. Tinha resolvido que ia separá-la levemente, só que algo muito forte o impediu e no lugar disso a abraçou, devagar abriu os lábios e empurrou sua língua para a boca de Renesmee. Foi tudo lento, com calma, sem urgência. Ela se separou dele e sorriu.

-Agora eu já posso ir para qualquer lugar - ele estava envergonhado, incrédulo com o que tinha acabado de fazer, mas a fala dela saia tão natural que o acalmava - Eu te amo.

-Renesmee, isso não deveria ter acontecido... Eu... O que eu faço? - ele rodava pelo quarto nervoso.

-Que tal admitir que também gosta de mim? Você nem conseguiu me repelir para longe de você. Jacob, você vibra quando eu te toco do mesmo modo que acontece comigo quando você põe suas mãos em mim. Você sorri o tempo todo quando está ao meu lado e eu não faço idéia de como parar de sorrir quando estou com você. Não acha que é óbvio? - ela falava séria, cada argumento era dito sem pressa.

-Óbvio ou inadequado?

-Uma coisa não tem nada a ver com a outra, Jacob.

Jake não se virou para olhá-la, não se despediu, foi até a porta e saiu. Transtornado ele bagunçava os cabelos, querendo arrancá-los pela raiz. Não queria ir para casa, não ainda, mas o que faria? Não podia ficar ali; disso estava certo.

"Rua Campo Serrano, 499. apt 23."

Bella conhecia o endereço, acreditava saber até de que prédio se tratava. Aquele caindo aos pedaços, no qual ninguém queria entrar. Era na periferia e ela preferiu ir de ônibus, o táxi poderia chamar muita atenção.

A cada parada do ônibus ela desesperava-se, ansiosa até ruia as unhas. Quando viu a placa da avenida que cruzava a rua apertou o botão que declarava que ia descer, as portas se abriram quando o grande veículo encostou no ponto, que nada mais era que uma madeira cravada no chão. Andou os quinhentos metros quase correndo.

O prédio não tinha porteiro, só o interfone para cada apartamento. Como entraria ela não sabia, não podia tocar no apartamente, no final das contas. Até uma velhinha com um saco de pães aparecer.

-Oi! Ah, meu namorado, ele convidou para vir, mas o danado, aposto que está dormindo e não quer atender! - ela dissimulou para a senhora de cabelos branqiunho - A senhora mora aqui?

-Sim, minha filha. Quem é seu namorado? O Cullen? Começaram a namorar faz pouco tempo?

-Sim. Faz só uma semana que eu e Edward decidimos a começar algo sério. A senhora o conhece?

-É o meu vizinho! Venha, querida. - a velhinha a puxou pela mão.

Pelo menos uns quinze centímetros mais alta do que a de cabelinhos brancos, Bella a seguia de perto. Chegando ao segundo andar pela escada de madeira com carpete se separaram. Isabella agradecendo muito a outra que indicava o apartamento vinte e três.

Apesar de ser a terceira vez que ela ia bater numa porta, não estava cansada, mas sim morrendo de medo. Das outras vezes não era decisivo, não era nada que poderia lhe causar flashbacks e tonturas, eram pessoas que ela sentia falta, só.

-Quem é? - ela tinha batido só uma vez, bem de leve, esperando que ninguém ouvisse e ela, podendo mentir para si mesma, iria embora dizendo que não o encontrou.

Ela não encontrou forças para responder.

-Quem é? - a porta se abriu e Bella num reflexo deu passos para trás - Bella...

Ele estava boquiaberto apoiado na porta. Bella nem notou que ele estava com os músculos bem definidos do torso espostos pela falta de camisa do pijama, estava ocupada encarando o chão.

-Oi.

-Quer entrar?

-Foi para isso que eu vim, não é?

-Você que sabe.

Eles entraram, Edward fechando a porta atrás de si. Ela finalmente o olhou, notou como o seu rosto não tinha mudado, mas estava cansado. Reparou no cabelo, da mesma cor acobreada do de sua filha, meio comprido e bagunçado. A perfeição andava bem desleixada. Por último ela viu o tórax despido, ficou vermelha, ele ainda lhe era muito atraente, mas desviou os olhos e sorriu forçadamente.

-Preciso da sua ajuda - ela falou sentando-se em uma das poucas áreas onde não pairava um cheiro de comida velha nem tinha um amontoado de roupas, bem ali do lado da janela.

Ele não respondeu e ela tirou o tempo para averiguar o local. A televisão no meio da sala também tinha roupas que a cobriam. Não se enxergava o tapete da mínima sala. Não existia uma mesa de jantar, mas um par de cadeiras com mais amontoação estava recostado no canto. Eles passaram de relance pela cozinha que ela não chegou a notar se também era bagunçada, mas de onde estava sentada ela via o quarto. Via a cama desarrumada e dois pacotes de cigarros jogados em cima dela. O cheiro do ambiente misturava o dos tecidos suados e sujos com os alimentos estragados e o cigarro, não era agradável, mas com a brisa que vinha de fora era suportável.

-Você trabalha? - ela perguntou para quebrar o gelo que havia se instalado.

-No momento não. Sei lá, ando sem cabeça para isso. Você? - ele respondeu acendendo um cigarro e oferecendo a Bella que aceitou para sua surpresa.

-Jacob falou para eu largar, andava tendo umas crises de exaustão. Eu aceitei a proposta. - ela deu uma tragada e olhou para o lado para soltar a fumaça.

-Fuma desde quando?

-Desde que sua filha se tornou uma drogada. - ela conseguiu chegar ao ponto, mesmo que de maneira inusitada. - Mentira. Não fumo, deixa um gosto ruim na boca. Você devia parar, ou ninguém vai querer nada com o maravilhoso Edward Cullen.

-É verdade? Ela tá nessa, mesmo? - ele ainda estava apático e ignorou o sarcasmo dela.

-Sim. Deve fazer uns quatro anos, porque acho que começou antes dela voltar da casa de mamãe.

Ela apagou o cigarro na sola do tênis.

-Como vai dona Renée?

-Morta.

Ele chacoalhou a cabeça e agora que apagava o cigarro era ele, num cinzeiro, enquanto ia para o lado de Bella da sala.

-Você não era assim. Fria, ou sei lá...

-Você também não. Era a pessoa mais meiga e linda do mundo, mas agora olhe este farrapo que sobrou.

-Você disse que veio pedir ajuda. Era por causa da Renesmée? - ele engoliria qualquer coisa, porque sabia ser verdade. Pelo menos agora ele parecia demonstrar algum interesse.

-Você sabe o nome dela, estou perplexa. Não me surpreenderia se não soubesse nem isso. Mas aposto que Esme e Carlisle também já tinha te contado sobre os problemas da Nessie. - Bella mostrava um belo sorriso de escárnio.

-Por mais que eu quisesse, não podia ignorar o fato de que tinha uma filha, certo?

-Mas não foi o que fez?

Ele negou veemente com a cabeça. Sentou-se ao lado dela e recostou a cabeça na parte de trás do sofá.

-Eu só tive medo.

Da porta do hospital Jacob ponderava sobre o que deveria fazer. Tinha vergonha de voltar, mas não tinha para onde ir a não ser a casinha triste. O que fazer se não procurar conforto em Bella, antes de tudo ela era sua melhor amiga. Correu para o carro como se sua vida dependesse disso, girou a chave no contato e após manobrar atolou o pé no acelerador.

O hospital estava a dez ou quinze minutos da casa deles, Jacob não chegou a levar seis. Estacionou mal o carro e manuseou as chaves sem cuidado nenhum ao fechar a porta do carro e abrir a da casa.

Depositando todas as suas coisas sobre a mesinha ao lado da porta começou a gritar por Isabella. Ela não respondeu. Ele ficou sem resposta todas as quinze vezes que gritou, não importava em que parte da casa ele gritasse, ela estava fazia. Bella não estava ali.

Jacob estremeceu ao pensar aonde ela poderia ter ido. Ele sabia.

Edward e Bella ficaram calados por tempo demais, até ele oferecer uma bebida. Foram até a cozinha, desconhecida por ela, e ele pegou duas de suas milhares de cervejas. Sentaram-se e voltaram ao silêncio. Ele procurava seus olhos, mas ela os escondia bem para Edward não ver que novas lágrimas já escorriam deles de novo.

-Medo do quê? MEDO DO QUÊ? - Ela ergueu-se e bateu a garrafa com toda a força na mesa, ela estava tão fraca que nem para quebrar uma garrafa servia.

-Como assim do quê? Tínhamos dezessete anos! Sinceramente, eu não sabia o que ia fazer!

-E eu sabia? Mas não fugi! - ela abaixou a voz antes de continuar - Mas tudo o que eu quero é cooperação. Tenho uma filha de vinte anos que tem problemas sérios e tudo o que eu tô pedindo agora é a sua presença, porque eu acho que vai ajudá-la. Não o procuraria se não tivesse certeza.

-Tudo bem. Acho que eu preciso. Onde ela está? - ele levantou e foi para perto de Bella.

-Agora no hospital St. Jude, mas será removida para um centro de desintoxicação amanhã ou depois.

Ela abaixou os olhos e talvez por ver uma brecha Edward beijou sua testa. Ela o empurrou, tentou machucá-lo. Bateu e relutou, mas no final estava cansada e o abraçou chorando. Ela tinha nojo dele, não queria chegar perto, não queria tocá-lo, mas era frágil e estava acabada, desmoronava, ruía, dentro de si mesma. Sentia-se tomada pelo desespero cada vez que respirava, doía por ar em seus pulmões.

-Não era essa a conversa que eu imaginava quando eu te visse de novo - ela falou com a cabeça enterrada na clavícula dele - É claro que também não imaginei que não te veria por vinte anos.

-Eu queria te procurar, mas Carlisle falava que você estava feliz com Jacob.

-Eu sobrevivia. Sabe, eu realmente achei que você apareceria depois de uns anos pedindo desculpas e implorando para cuidar da menininha. Ela é tão linda.

-Estou pedindo agora, Bella. Pode ser tarde demais, mas é o máximo que posso fazer. - ele a apertou mais contra seu peito, ela estava tão magra que ele se assustou pensando que a quebraria.

-Não é tarde demais. Tempo é tão relativo, não? Vinte anos. É muito, certamente, mas se você pensa no quanto ainda temos a viver.

-Você está sorrindo. De verdade. Está aqui há quase uma hora e é a primeira vez que sorri como antes. - ele a segurava um pouco afastada para ver seu rosto.

-Você sempre curou todas as minhas feridas.

Bella tremia enquanto ele se aproximava dela. Queria brigar com ele, queria dizer o quanto ele havia sido um imbecil e quanta raiva ela tinha dele, mas todos os sentimentos se esvaiam quando ela olhava para o rosto doce dele. Não era o certo, porém a quanto tempo ela não fazia o certo. Tinha que pensar um pouco no que seu corpo pedia e ela tinha certeza que ele pedia desesperadamente por um toque de Edward. Bella queria matá-lo, cortar ele em pedaços até não sobrar nenhum vestígio dele, só que algo a impelia a se aproximar dele cada vez mais. Passar a mão por sua pele sempre fria, senti-lo novamente nas pontas de seus dedos. Era o que ela mais queria há vinte anos.

O hálito dos dois se misturava quando estavam a apenas milímetros, os dois estavam com taquicardia e soltavam o ar pela boca. Ela não pode agüentar mais aquela tensão que os segurava, ergueu-se um pouco e terminou a aproximação. Ele até se sobressaiu um pouco, mas encarregou-se de curvar-se um pouco para fazê-la descer das pontas dos pés. A apoiou na cintura e também na nuca. Bella passava a mão em seu peito nu, parou de repente os movimentos e o agarrou pelo pescoço, depois se afastou um pouquinho. Aparentemente, apesar de toda a atração, que os juntara tão fortemente, não houvera lutas travadas dentro das bocas unidas, eles estavam mais demonstrando saudade. Eles ainda se amavam, nunca deixaram de se amar, nunca se esqueceram um do outro.

-O quê foi? Me perdoe, Bella. - ela mandou ele se calar com o indicador.

-Alô? - o celular tinha tocado, por isso ela desvencilhara-se.

Edward sentou para observá-la ao telefone com Jacob. Ela ainda era linda: simples, convencional, mas ao mesmo tempo tão extraordinária. Estava esquelética, seus pulsos finos demais deixavam o relógio circular livremente, e os seios, sempre pequenos, ainda mais agora, não davam muito volume a blusa azul. O cabelo meio bagunçado estava opaco e quebradiço. Os olhos estavam enterrados atrás das olheiras de pele ressequida. Mesmo sendo pequena, mirrada e estando literalmente um fiasco, ela ainda era graciosa e doce. Tinha aquele ar infantil e risonho, mesmo que um pouco escondido atrás da parede de gelo agora. Bella ainda era aquela menina por quem ele se apaixonara e com quem ele fizera uma filha.

Tão absorto ele não acordou até ela o chamar pela terceira vez.

-Edward? Jacob ligou. - ele queria dizer que tinha reparado - Nessie, ela sumiu do hospital.

Olá!

Gente! A fic ficou muuito grande para ser uma one shot!

+12.000 palavras não é brinquedo!

HAHAHAH

bem, obrigada por lerem

Espero suas reviews.

A segunda parte sai em breve.

Beijoos.

Louise.